Policial pisa no pescoço de comerciante imobilizada
Foto: Reprodução.
RODRIGO MATIAS

Atualizado às 21h40min.
Um policial pisou sobre o pescoço de uma mulher negra, de 51 anos, por causa de uma confusão de bar em São Paulo. A identidade da comerciante negra, dona do estabelecimento da ocorrência, não foi revelada. Justamente pelo medo que ela tem de retaliação por parte da polícia. A abordagem violenta aconteceu em 30 de maio. O policial que aparece nas imagens, que circulam na internet, é o soldado da Polícia Militar, João Paulo Servato, de 34 anos, da 2ª companhia do 50º Batalhão, no Grajaú, também na região Sul.
Sabe o que é revoltante? Não é a semelhança com o que aconteceu com George Floyd nos EUA, mas as diferenças. O caso aconteceu em 30 de maio, mas só foi divulgado dia 12 de julho. Nada de mobilização, nada de “vidas importam”, nada. O governador de São Paulo repudiou a ação só porque foi para a mídia. O policial foi afastado e depois vai voltar para sua atividade. E só…
Me deixe fazer uma ressalva, para não haver generalização. No dia em que agrediu violentamente a comerciante negra, Servato estava na viatura M-50211 com outros PMs e foram atender uma reclamação de bar aberto durante a pandemia da Covid-19. As testemunhas alegam que os clientes estavam apenas retirando mercadoria, quando deu início a abordagem truculenta dos agentes.
O pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), Dennis Pacheco, destaca que nenhum policial é treinado para não usar práticas de tortura nem força letal contra cidadãos desarmados e rendidos. Além disso, ele afirma que casos de abuso policial são resultado de falas populistas do governador do estado, João Doria (PSDB).
– Paralelamente, a polícia de São Paulo é referência em termos de treinamento no país. Também por isso, critica-se tanto o plano do governador de retreinar todo o quadro. O que existe é uma contradição entre o legalismo da academia e a subcultura de uso excessivo da força praticado nas ruas. Isso é estimulado por falas populistas do governador e depois legalizada pelo judiciário que inocenta policiais que usam a força excessiva – ressaltou Pacheco.
O tenente-coronel da PM reformado, Adilson Paes de Souza, aposentado e com 36 anos de experiência na corporação, acredita que as imagens do policial tirando o pé do solo para aumentar o peso da pressão sobre o pescoço da mulher, imobilizada, caracteriza uma falha no treinamento.
– Todas as ações de um policial estão previstas em normas, regulamentos e procedimentos. O que ele faz não é o comportamento esperado de um agente de segurança pública. No entanto, indica que eles não estão sob treinamento constante, como deveria ser. Há uma falha aí – considera Souza. O policial reformado é autor do livro “O Guardião da Cidade: Reflexões sobre casos de violência praticados por policiais militares” e da dissertação de mestrado “A educação em direitos humanos na Polícia Militar”.
É algo para se pensar. Será que a abordagem do PM é criminosa e fora do padrão de treinamento da corporação? Não se pode generalizar, como eu já disse. No entanto, infelizmente, exceções como essa tem se tornado regra no Brasil e em outras partes do mundo.
Mas sabe o que me incomoda mais? O meu próprio pensamento! Quando li a manchete: “Policial pisa no pescoço de mulher negra em SP”, a primeira coisa que eu pensei, a primeira mesmo, foi imaginar o que essa mulher fez para ser abordada assim?
Admito a minha vergonha, herança do racismo estrutural que temos no Brasil. Mesmo sendo negro, meu primeiro pensamento foi de condenação da vítima, e não do agressor. Isso é terrível! Eu reconheço meu erro de pensamento inicial e tomo uma atitude, com esse artigo, de busca por justiça. Além disso, quantos permanecem acreditando no que eu pensei inicialmente? Esse é o ponto! A grande questão do racismo, em especial no Brasil.
Vidas negras brasileiras também importam? Acredito que não, para a grande parte da população. Infelizmente. O que você pensa sobre isso? Deixe um comentário e até a próxima semana. Forte abraço!

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