Atualizado às 11h56min.
Rio de Janeiro
Os tiroteios na cidade de Rio de Janeiro podem provocar mudanças na forma do carioca se comunicar. Principalmente os moradores de comunidade. A novidade agora é eles usarem a internet para transmitir informações. A população vem usando aplicativos para chamar a atenção para os conflitos. Isso no instante em que estão ocorrendo. A intenção é se proteger do perigo nos deslocamentos dentro das próprias comunidades ou na volta para casa, no momento em que os conflitos ocorrem.
“O Complexo do Alemão tem 13 favelas. A gente tem grupos no WhatsApp nessas 13 favelas e aí faz a transmissão. As nossas redes sociais são para comunicar, não só histórias positivas dentro da favela, mas também problemas sociais como lixo, casa caindo. ”, contou a jornalista Maria Carolina Morganti, de 25 anos, que atualmente é chefe de redação do Voz da Comunidade, jornal que atua de forma social/jornalística nessas comunidades.
No site Fogo Cruzado, criado para divulgar informações que servem para estudos sobre onde e quando ocorrem os tiroteios, os dados são atualizados frequentemente. O site conta ainda com a publicação de estudos feitos em parceria com a Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV/DAPP). A jornalista Cecília Olliveira, gestora de dados do Fogo Cruzado, disse que a utilização das informações vai depender do perfil de quem acessa a página – podem ser pesquisadores ou a imprensa, para contextualizar as questões de violência no estado. Há também quem procura se inteirar se perto de casa tem um tiroteio ou em algum lugar para onde está indo. Os dados são abertos.
Segundo Cecília, a sensação de insegurança muito grande na cidade levou as pessoas a se comunicar mais. Ela alertou que, por isso, aumentou o número de boatos nas redes sociais. “As pessoas estão atemorizadas. Elas realmente buscam mais informação sobre o que está acontecendo, como, onde e porque. Tem inclusive a porta aberta para os boatos”, acrescentou.
Para a psicóloga e pesquisadora do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB), Herika Cristina da Silva, a violência urbana chegou a um nível tão elevado que as pessoas estão com medo exacerbado e sobressaltadas com a necessidade de colher informações sobre a ocorrência de algum evento. Ela destacou, no entanto, que a utilização dos aplicativos para esse fim pode piorar a situação. “A utilização do aplicativo é também difícil porque, ao mesmo tempo em que pode ajudar a sair de uma situação de violência, acaba levando a pessoa a ficar cada vez mais exposto ao conhecimento dessas situações. Pode ajudar a aumentar o nosso medo e essa sensação de vulnerabilidade e de insegurança, porque a pessoa se expõe a mais situações”, explicou.
A maior parte dos registros de tiroteios/disparos de arma de fogo se concentra na zona norte, com maior ocorrência nas regiões do Complexo do Alemão (218 registros) e da Maré (119 registros). Outra área que chamou a atenção foi a das imediações da Avenida Brasil, na altura do bairro da Penha (128 registros). O objetivo da pesquisa é pensar em políticas públicas que atendam às diferentes necessidades de crianças e adolescentes em idade escolar que vivem em áreas vulneráveis, com alto índice de violência, especialmente a armada.